domingo, 21 de novembro de 2010

Oncologia em Portugal está à beira da ruptura,




Faltam meios técnicos, o número de oncologistas é insuficiente, não existem linhas
orientadoras para o tratamento da maioria dos cancros e a rede de referenciação ainda está em estudo. Retrato do cancro, a doença responsável por um quarto das mortes no país.

" A situação é insustentável e, se não for reforçado o investimento em oncologia, adivinha-se uma ruptura dos serviços a prazo, adverte o presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos. Com o aumento do número de novos casos de cancro e da esperança de vida dos doentes, a pressão sobre a rede de cuidados oncológicos "é enorme" e as verbas alocadas "são ínfimas", considera Jorge Espírito Santo. A investigação, de acordo com um estudo de 2009, está subfinanciada ao nível do Leste da Europa.

A carência não é só de verbas: "Há restrições no acesso a tecnologias de diagnóstico e a blocos operatórios" e faltam oncologistas (existem 130 quando seriam necessários 200) e radiologistas, segundo o responsável da Ordem, que enfatiza a velha frase "falta organização".

Só estão publicadas as linhas orientadoras para o tratamento dos cancros do pulmão e da mama. Para o cólon e recto e próstata as orientações estão prontas mas ainda não publicadas. Para os restantes tumores, cada instituição segue as que considera mais correctas.

O Plano Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Oncológicas, que esteve em discussão pública até Janeiro passado, ainda não foi apresentado. O novo responsável da Coordenação Nacional para as Doenças Oncológicas não está, porém, preocupado com as datas de publicação do documento. "Desde 1990 que existem planos oncológicos. Não me interessa ter planos publicados, mas fazer relatórios de execução. Para isso, é preciso implementar e monitorizar", sublinhou Manuel Leitão da Silva ao JN.

As prioridades do recém-empossado coordenador estão definidas: generalizar o rastreio de três cancros (mama, colo do útero e colo-rectal) e implementar práticas eficientes e rápidas de registos oncológicos, para que seja possível saber, com intervalos máximos de dois anos, a incidência real dos vários carcinomas no país.

Manuel Leitão da Silva admite que a rede de referenciação é um "trabalho mais complexo", estando em curso o levantamento, a nível nacional, das necessidades e da capacidade instalada, por forma a que seja definido quem deve tratar o quê.

Ao contrário do seu antecessor, que defendia que apenas as unidades hospitalares que tratassem um mínimo de 500 novos casos por ano deveriam manter-se em funcionamento, o novo coordenador é apologista de uma postura de maior flexibilidade, embora admita que o tratamento de um número muito baixo de doentes comprometa a qualidade da intervenção."

Adriana Silveira

1 comentário: