sábado, 26 de fevereiro de 2011

"Pode ser que agora se saiba o que aconteceu" ao Rui Pedro


"Pode ser que, a partir de agora, se saiba o que realmente aconteceu ao meu filho", disse, ao JN, a mãe de Rui Pedro, o rapaz desaparecido há 13 anos em Lousada, reagindo à notícia de que o Ministério Público acusou este sábado Afonso Dias de crime de rapto do jovem.

"Estou na expectativa para ver o que vai acontecer", referiu Filomena Teixeira, confirmando que foi notificada hoje da acusação do Ministério Público.
O procurador Vitor Magalhães acusa Afonso Dias de rapto, um crime punível com dez anos de prisão. O Ministério Público afirma que Afonso Dias raptou o menor Rui Pedro, na altura com 11 anos de idade, no dia 4 de Março de 1998.

O testemunho de uma prostituta terá convencido a Ministério Público de que Afonso Dias levou o menor para um encontro de cariz sexual e que sabe o que aconteceu a Rui Pedro.

"Realmente, 13 anos é bastante tempo, mas costuma-se dizer que mais vale tarde do que nunca", acrescentou, ao JN, Filomena Teixeira.

Adriana Silveira

Idoso estava morto em casa há meses





Um idoso que estaria morto, em casa, há cerca de três meses foi encontrado, na tarde de sexta-feira, pelos bombeiros e pela polícia, depois do alerta dos vizinhos que não o viam "pelo menos desde Dezembro", disse, ao JN, fonte da PSP de Lisboa.

O homem, com mais de 70 anos, vivia sozinho no 3º andar esquerdo do número 31 da Rua Jorge Colaço, uma transversal da Avenida do Brasil, em Lisboa, nas traseiras do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

Segundo fonte do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa, só esta sexta-feira é que os vizinhos deram o alerta à 3.ª Divisão da PSP, queixando-se de que não viam o idoso desde Dezembro e que havia mau cheiro no prédio. Pelas 18.30 horas, a Polícia solicitou a intervenção do Regimento de Sapadores Bombeiros que, chegado ao local, através de uma janela, conseguiu confirmar que o corpo do idoso se encontrava dentro de casa, tendo arrombado a porta.

Chamado ao local o Ministério Público, o corpo foi então removido para o Instituto de Medicina Legal onde será autopsiado. De acordo com a PSP, em Dezembro o homem ainda terá estado internado num hospital de Lisboa, não sendo visto pelos vizinhos desde então. O homem teria um irmão, residente em Lisboa, mas com quem já não se dava há algum tempo, disse a mesma fonte.

Este é o mais recente caso de uma realidade para a qual o país despertou no dia 8 de Fevereiro, quando foi descoberta uma idosa, na Rinchoa, Sintra, que estava há nove anos morta em casa. Desde então houve conhecimento de vários casos de idosos encontrados mortos em casa há vários dias, sem que a família alertasse para isso.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

"Criança sobreviveu ao abutre, fotógrafo sucumbiu à dor"


"O fotógrafo sucumbiu ao arrependimento e suicidou-se. A opinião pública crucificou Kevin Carter, mas, 18 anos volvidos, sabe-se que a criança que parece prestar-se a servir de pasto ao abutre sobreviveu à fome e à guerra no Sudão.
Kevin Carter disparou, em 1993, no Sudão, a foto que lhe viria a custar a vida, paradoxalmente, eternizando o fotógrafo sul-africano na galeria dos maiores repórteres fotográficos de sempre, com um "frame" icónico, um retrato de uma tragédia que não precisa de uma sílaba sequer.

Quando fotografou aquela cena, em Ayod, no Sudão, em 1993, Kavin Carter terá visto, como quase toda a gente, na imagem de um abutre postado atrás de uma criança desnutrida, a metáfora perfeita para a fome que grassava, e matava, no Sudão.

Disparou e pouco depois entrou no avião. O New York Times publicou a foto, que em 1994 viria a ganhar o prestigiado prémio Pulitzer. Kevin Carter não suportou a glória de uma imagem que lhe recordaria a sua própria mortalidade, a sua própria face humana, que naquela tarde de 1993, no Sudão, se deixou dominar pelo brio profissional de capturar a imagem que melhor demonstrasse a tragédia que varria o Sudão. Conseguiu-o.

O Mundo viu, nessa foto, a morte e a fome, a morte pela fome. A opinião pública apressou-se a julgar e a condenar sumariamente a alegada frieza com que teria agido Kevin Carter, considerando que o fotógrafo poderia, e deveria, ter feito alguma coisa para salvar a criança. Kevin sentiu o mesmo e foi essa dor que o levou a pôr termo à própria vida, incapaz de suportar a ideia de não ter ajudado a salvar uma vida."
Adriana Silveira

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Amores interronpidos e retomados





Eles namoraram, na adolescência, e depois terminaram tudo. Casaram com outras pessoas, fizeram as suas vidas, tiveram filhos. Mas, por força do destino, por coincidência ou simplesmente porque sim (nós preferimos a versão do destino), um dia voltaram a encontrar-se. Na véspera do Dia de São Valentim, a nm foi conhecer três histórias de amores interrompidos e mais tarde retomados.

Lia e Guy

«Yes, it was love at first sight» («Sim, foi amor à primeira vista»), declara Guy com um sorriso embevecido, ao mesmo tempo que procura a mão dela. Lia confirma, repetindo o sorriso dele e estendendo a mão. Um amor à primeira vista que nasceu há trinta anos, quando o olhar de um congelou no olhar do outro e, por instantes, o mundo parou de girar.

Ela estudava num colégio interno inglês, para meninas, ele estudava na Academia Real Militar Sandhurst. Ela tinha 16 anos, ele 19. Ela tinha sangue na guelra, ele gostou logo disso. Mas recuemos um pouco para compreender o que fazia uma portuguesa num colégio interno inglês, e o que é isso de ter sangue na guelra (ou pêlo na venta, como se queira).

Lia tinha estudado no Ramalhão, um conceituado colégio interno para raparigas, em Sintra, e a passagem para o liceu estatal não foi exactamente aquilo que a mãe dela previra. Na verdade, foi como encostar um fósforo aceso a um pavio curto. Lia tinha então 14 anos e a liberdade do liceu foi avassaladora. Chumbou por faltas. A mãe, que não tolerava desatinos, mandou-a para Inglaterra. Mas pecou por excesso. O colégio era muito rigoroso, demasiado rigoroso. «Era um colégio de freiras, as meninas andavam de gravata, chapéu e luvas e eu odiei aquilo. Não me apetecia nada ir à missa todos os dias, não me apetecia nada não fumar, não me apetecia nada ter dez desportos diferentes com dez uniformes diferentes. E, um dia, eu e umas amigas fomos passar o fim-de-semana e não voltámos. Decidimos ficar mais uns dias fora. Claro que fomos todas convidadas a sair do colégio.»

A mãe da rebelde enfureceu-se e achou que ela tinha feito de propósito para ser expulsa e assim poder voltar a Portugal. Vai daí e, em vez de a trazer para casa, meteu-a noutro colégio interno, mas mais moderado. «Já não era de freiras, não havia uniforme. Podia-se fumar... E depois havia as festas.»

As festas. Rapazes convidados para as festas no colégio, meninas autorizadas a irem às festas dos rapazes. E foi num desses intercâmbios de festas inter-colegiais que os olhares de Lia e Guy se cruzaram e o mundo parou, ou pelo menos eles apostam que sim.

Namoraram dois anos e meio, mais coisa menos coisa. Assunto sério, com apresentações feitas a ambas as famílias, ela a conhecer os Lower, ele a voar até à casa dela do Algarve, para passar uns dias. Mas Lia continuava indomável. E aos 18 anos quis voltar para Portugal, mandando a relação às urtigas. «Ele queria casar e ter filhos. Eu queria mundo! Tinha 18 anos e queria ir para a faculdade, queria viajar, queria conhecer pessoas. Não estava minimamente preparada para uma coisa tão séria.»

Guy, que percebe alguma coisa de português, vai acompanhando a conversa. Neste ponto da história, fica sério e quase revela um beicinho triste. «She broke my heart» («Ela partiu o meu coração»), confessa. «She really broke my heart» («Partiu-o mesmo»).

Ele ainda lhe escreveu algumas cartas, apaixonadas, lânguidas, implorando que ela reconsiderasse, recordando os bons tempos que tinham passado juntos. Ela respondeu a poucas. E assim, em 1983, terminou o namoro de Lia e Guy. Ponto final parágrafo. Ou será preferível dizer reticências?

A vida de cada um seguiu rumos distintos, em países diferentes. Ele casou, teve dois filhos. Ela casou, não teve filhos. Divorciaram-se ambos.

Em 2004, ele foi passar férias ao Algarve e os pés encaminharam-se, como que impelidos por uma força magnética, para a casa onde tinha conhecido a família dela. Tocou à campainha, ninguém atendeu. Persistente, resolveu deixar um bilhete debaixo da porta. Dizia qualquer coisa como: «Sou o Guy, de Inglaterra. Passei aqui. Deixo-te o meu e-mail.»

Quis o destino que a mulher-a-dias da família de Lia não fosse muito competente, quis o destino que a mãe de Lia encontrasse, meses depois, o bilhete, com mais cara de lixo do que de bilhete, cheio de pó e amarrotado, quis o destino que Lia lhe desse alguma atenção e enviasse um e-mail a dizer olá. Trocaram algumas palavras, contaram um ao outro dos respectivos casamentos e divórcios, e foi tudo. Ele guardou o numero de telemóvel que aparecia, por defeito, no e-mail da empresa onde ela trabalhava. Ela nunca mais pensou no assunto.

Cinco anos passaram, desde essa troca de correspondência. E em Setembro de 2009, Guy voltou ao Algarve, para jogar golfe com um grupo de amigos. E só pensava... nela. Estava no hotel, ligou para o número que tinha guardado, mas estava a pôr indicativos a mais e não acontecia nada. Desceu, perguntou ao recepcionista se estaria a fazer tudo bem, tornou a tentar. Pelo meio, os amigos iam insistindo para que se despachasse, que queriam sair para irem tomar um copo. Ele pedia-lhes só mais um minuto.

Do outro lado, Lia preparava-se para ir ao ginásio. Mas não tinha vontade. Arrastava-se. Calçou os ténis, jogou-se para a cama, como se algo a obrigasse a ficar ali, junto ao telemóvel que, a certa altura, tocou. «Vi que o número era do Algarve e pensei: não conheço ninguém no Algarve, não vou atender.» E não atendeu. Mas depois, Guy ligou do seu próprio telemóvel. E aí, como Lia faz gestão de património e recebe inúmeras chamadas de clientes aflitos, teve mesmo de atender. «Hello! It"s Guy!» («Olá! É o Guy!») Ela ficou imóvel. O coração deu um pulo. Sem perceber bem como disse-lhe: «Guy? Olá! Tenho de te ver!»

No dia seguinte, Lia apanhou o avião para Faro. Ele, por sua vez, esperava-a com uma ansiedade imensa. Os amigos, no hotel, gozavam: «Uma latina? Mas tu não sabes como são as latinas? Aos 40 anos estão cheias de filhos, são gordas, muito gordas, com um rabo gigante! No que te vais meter, querido Guy! Vais apanhar a desilusão da tua vida!» Ele tremia com a ideia da decepção. Afinal, tinha passado os últimos trinta anos a pensar nela. Sim. Leu bem. É verdade que casou, é verdade que teve dois filhos. Mas nunca mais esqueceu Lia. «A palavra-chave do meu computador foi sempre, ao longo dos anos, LiaandGuy (Lia e Guy). A cruz que ela me deu, com o seu nome, nunca saiu do meu pescoço. Mesmo durante os anos que estive casado. Nunca mais a esqueci. Nunca amei ninguém como a amei a ela.» Lia sorri. Também ela ficou incrédula com a revelação. Também ela não acreditou quando ele lhe contou da cruz. Mas depois, ao ver fotografias dele, percebeu que era verdade. A cruz estava em todos os retratos, em todas as situações, ao longo dos anos.

No dia marcado para o encontro, Guy esperava-a na recepção, enquanto os amigos aguardavam escondidos e a gozar o prato. Nisto, aparece uma morena enorme, com um traseiro de impor respeito. Os amigos largaram a rir: «Nós avisámos!» Ele susteve a respiração. Quando ela se voltou, suspirou de alívio. Não era a sua Lia.

Nisto, surgiu ela. O coração dele descompassou. O dela também. Deram um abraço e o mundo voltou a deixar de se mover. Como há trinta anos. A conversa fluiu com uma naturalidade invulgar. Como se não tivesse havido qualquer interrupção. Como se não tivessem existido outras pessoas nas suas vidas. Como se o mundo tivesse ficado assim, congelado, trinta anos congelado, à espera, e só agora se preparasse para girar outra vez. «O que eu senti foi que foi tudo tão fácil. Com ele não tenho de fingir. Nem no início da relação, em que tem de se impressionar e dizer e fazer as coisas certas... connosco parece que não era preciso. Porque o início da relação já tinha sido, há trinta anos. E, por isso, podíamos bem saltar essa parte e limitarmo-nos a ser quem somos, sem máscaras.»

Lia e Guy casaram no dia 19 de Junho de 2010, dia do aniversário dela. Ela completou 47 anos, ele estava com 50. No dia da boda, Lia levou ao pescoço uma medalha que ele lhe tinha dado, há trinta anos, no dia de São Valentim e que tinha inscrita a frase «A day to remember» («Um dia para recordar»). Quando botou os olhos na medalha, Guy chorou como uma criança.

O casal vive em Portugal e é feliz. Só houve, até agora, um pequeno problema nas suas vidas de reapaixonados: a cama. Durante alguns meses, Guy dormiu com os pés de fora, porque a cama dela era para inglês ver (e não dormir). Tirando isso, é só felicidade e o mundo, de novo, a parar de girar.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cérebro humano está uma bola de ténis mais pequeno


O cérebro humano encolheu em 30 mil anos e o fenómeno intriga antropólogos. A maioria dos especialistas aposta mais na hipótese de se tratar de um efeito da evolução face a sociedades mais complexas, do que de um sinal de embrutecimento.

Ao longo de 30 mil anos, o volume médio do cérebro do homem moderno -- homo sapiens -- diminuiu cerca de 10%, de 1500 para 1359 centímetros cúbicos, o equivalente a uma bola de ténis. O cérebro das mulheres, mais pequeno do que o dos homens, sofreu proporcionalmente a mesma redução.

As medidas foram feitas a partir de cérebros encontrados na Europa, no Médio Oriente e na Ásia, explicou o antropólogo John Hawks, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. "Chamo a isto uma redução essencial e uma piscadela de olho à evolução", declarou o especialista numa recente entrevista à revista 'Discover'.

Segundo alguns antropólogos, tal redução não é assim tão surpreendente, na medida em que quanto mais forte e musculado mais tempo leva a inteligência a controlar essa massa.

O homem de Neandertal, um 'parente' do homem moderno desaparecido há 30 mil anos por razões ainda não totalmente clarificadas, era mais forte e tinha um cérebro maior. O homem Cro-Magnon, que pintou as paredes da caverna de Lascaux há cerca de 17 mil anos, foi o Homo sapiens com maior cérebro. Era igualmente mais forte do que os seus descendentes.

"Tais recursos eram necessários para sobreviver num ambiente hostil", sublinha David Geary, professor de psicologia da Universidade de Missouri, nos EUA, e autor de trabalhos sobre o desenvolvimento do cérebro humano ao longo dos anos.